Faca e o queijo na mão.
Nunca essa
expressão foi tão saborosa para as produtoras de shows e eventos. A presidente
Dilma Rouseff (PT) sancionou o Estatuto da Juventude. A lei, que passa
a vigorar daqui 180 dias, têm entre seus dispositivos um ponto polêmico: a
limitação em 40% no benefício da meia-entrada para estudantes em eventos
artísticos culturais. Além disso, o texto também engloba jovens de 15 a 29 anos inscritos no
Cadastro Único de programas sociais do governo e que tenham renda inferior a dois
salários mínimos. Legal.
A medida foi
defendida com unhas e dentes por empresários, artistas, e produtores. Para
eles, a aprovação da lei poderia garantir redução de 30% nos preços dos
ingressos oferecidos atualmente. No último post do blog, demonstrei total desconfiança com esse discurso. Afinal, nunca vi empresa que não absorva ganho
financeiro com lucro.
Não estou
defendendo a carteirinha de estudante, que é completamente banalizada, vendida
em qualquer esquina. A produção do festival Lollapalooza, afirmou, por exemplo,
que o evento no Brasil neste ano teve 90% de meias-entradas. Absurdo. E as empresas não perderam o bonde, claro. A lógica da
ilegalidade já havia sido captada há tempos.
Se a maioria das vendas é de meias-entradas, vamos aumentar o preço delas, ora.
E foi o que se fez em longa escala.
Neste ponto do Estatuto da Juventude o governo deu o
ponto, mas esqueceu de dar o nó. Passou a mão na cabeça de empresários,
prometeu boas novas para as entidades estudantis (daqui seis meses), e deixou
para lá a discussão sobre as milhões de carteirinhas ilegais. Assim, montou a mesa para os especuladores
do entretenimento que já acrescentam outros ingredientes para o ingresso
permanecer salgado: “Alta do dólar, impostos, falta de infraestrutura adequada
para a realização de eventos de grande porte e os altos custos de produção”.
Agora, na hora de
comprar um ingresso, quem me garante o término nos 40% de meias- entradas?
“Sumiram em dez minutos pela internet”, podem justificar. Quem vai
fiscalizar? Quem decide o aperto na
corrente é a produtora. Aguardamos a redução no preço sentados. Enquanto isso, o jeito é propor um boicote nos shows dos ídolos em nome de um
processo mais transparente e um ingresso mais barato.